3. do livro do amor
levantar-se apesar de
é tempo de deixar de preencher vazios
de deixar todos os espaços em branco serem
do silêncio tomar conta
é me deixar ser tomada pelo poder da solitude em toda sua dimensão
de saber ouvir a própria respiração, agora desconhecida e distante por conta de um mundo de ruídos
que dizem sempre
você não é suficiente
há algo de errado em estar só
há uma força mística em negar o mundo de hiperestimulação vazia dos sentidos
para inundar-se pelo não ser
dar-se todo o tempo do mundo
pra curar um mundo inteiro de dentro pra fora
e às vezes pra isso
é necessário uma reclusão despretensiosa
que simplesmente acontece
tal qual um subconsciente sábio e cansado
lhe dizendo pare menina
olha pra dentro
que o mundo não vai parar de girar
todos os demais desencaixam
silenciosos
sorrateiramente
dirigindo-se à próxima festa, fofoca, tendência, notícia
não acompanho o mundo
não por descompasso
mas porque encontro-me em estado no qual é preciso
ouvir meus desabrochares, velórios internos e aceitar
meus próprios ciclos
aceitando que cada pessoa que vem por bem
tem seu papel
mas também seu próprio tempo e cumpre o quanto lhe cabe ou o quanto está preparado pra dar
que não posso ser tudo para todos
nem ninguém pode (ou deve) ser tudo pra mim
e que também há beleza nas pessoas que se vão de minha vida
por motivos vários
mas também seguindo seus próprios chamados internos
e prosseguindo para novas fases de vida
e tudo bem.
o tempo deu mais um salto
é mais um ciclo
talvez outono,
mas ainda assim, floresço.
não mais me afundo e recolho-me em desespero ou angústia pelas perdas, mas acolho a certeza de que toquei o tempo que me foi dado com cada um com amor genuíno
e que a vida, como filha do tempo que é,
exige mudanças
e agora me chama
a aprender a ser só
a viver desse autoamor
a sustentar as belezas e as agruras que acompanham o conhecer o resultado que agora sou depois de todas essas somas e subtrações
na certeza que sou mais do que o que elas fizeram de mim
e parar de lutar contra o revés
em prantos desesperos e tristezas
sou o que sou
permito-me acolher o que sinto da forma como vier
e honro meus sentimentos, mesmo os mais tabus
porque está na hora de escrever um novo livro
e sintonizar-me com o que há de Belo e bom
e aceitar que não me compete somente o desavisado, estragado, pouco amor, abandono ou desrespeito
a começar pela minha relação comigo mesma
e como eu me trato
por isso,
é tempo de silêncio.
preciso aprender com os novos ares que ecoam em meu peito
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