11. poema de dar tchau: foi-se ela.
era uma vez.
um nós.
desatamo-nos, nadamos a favor das correntes de oxum
o princípio de um raiozinho de sol que me aquecia a pele negra contra a tua
me fazendo entrar em contato com meu próprio corpo
que um dia eu vi como estanque
e hoje vejo como quente
vivo
pulsante
comunicando afeto pelos meus poros
abrindo as minhas portas e janelas pra fazer bolo de manhã cedinho
querendo beijar suas gargalhadas soltas de dentinhos separados
eu sei que não é tempo de ser
na realidade eu não sei
eu só confio em você que seja
percorro todos os meus lábios em saudades
do que o mundo grita que são pecados
mas que você me fez amar carregar nos dedos
porque é difícil o ato de não-ser quando estou a centímetros da tua pele
tornou-se um desassossego
os suspiros que não dei
nos arrepios das suas unhas
eu quero você.
inteira e não só ao meu lado contando seus causos
porque eu trabalho com o desnudar da alma
e dos corpos
e das mentes
e de todos os recôndidos que a gente carrega nos gestos cicatrizes medos e nos cheiros
eu quero você.
o dia do foi-se uma vez nos bancos de dar tchau
eu não consegui colocar pra fora o desaguar dos meus olhos
eu tentei e tentei e tentei por dois dias
certo é que eu não queria
te colocar pra fora.
queria adentrar os meus cabelos me aninhando no teu peito
enquanto você continua a leitura preta nos meus ouvidos sonolentos
decorar o caminho pra tua casa
de manhã cedinho de mãos dadas de noite e até de madrugada
acalentar teus choros e descobrir teus sonhos
vislumbrar os teus caminhos na sua fala não cortada
catar conchinhas nas praias dos teus cobertores
e não escrever poesias pra esquecer o futuro do pretérito do que não somos fomos seremos
sobre você? foi-se.
eu? não estou pronta pra ir embora.
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