8. a porra do afeto dói

a porra do afeto dói.
estou aqui me sentindo morta e viva ao mesmo tempo, ansiando veementemente por um afeto que eu não consigo pedir. está ao lado mas eu não consigo pedir. o que isso diz sobre mim?
a terapia me diz que eu tenho que ser meu próprio eixo. cuidar de mim, não cuidar do mundo.
mas de repente, hoje, eu sento aqui sozinha e isso não faz o menor sentido. foi isso que eu estive tentando fazer a vida inteira, não foi? não consigo pedir, não consigo precisar ter amor. estive sustentando a porra toda sozinha, pra mim e pro mundo.
não sei o que eu estava pensando.
a terapia diz pra eu usar a palavra querer ao invés da palavra precisar.
mas hoje eu preciso.
pra mim sempre foi muito mais fácil dar amor do que receber.
e eu me tornei uma expert em mim mesma pra não precisar de ninguém, saber me lidar.
mas isso me faz não ser capaz de estender a mão a dez centímetros de distância e pedir um abraço.
cuidava dos irmãos, cuidava das amigas brancas, cuidava até da própria mãe.
hoje olhei pro lado de manhã e não vi nenhuma dessas pessoas lá. e a pessoa que estava lá, senti a impossibilidade de mil muros construídos ao redor de pedir a mão.
e depois de longe pareceu que os muros caíram inteiros e desgastados dentro de mim, fazendo um buraco enorme e eu não conseguia parar de sentir.
mas ontem eu fui cuidada.
pela primeira vez eu fui cuidada no meio de uma crise louca.
eu nunca imaginei que eu ia passar de chorando de desespero para chorando de gratidão por estar sendo cuidada.
eu ouvi que eu podia procurar carinho. e que seria bom demonstrar o que eu estou sentindo.
e o mundo pareceu girar ao contrário e isso fez muito sentido.
e de repente doía menos.


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