19. inquietações sobre afeto (o consigo e o construído junto)
às vezes eu odeio quem eu sou e tudo que eu carrego nas minhas veias
as limitações, autoimpostas ou não
às vezes eu odeio o fato de que eu tenho que parar e dizer chega
autocuidarme saber até onde eu posso ir
é uma bênção
mas também é
um culpar-se por não conseguir ir adiante
às vezes é difícil de viver em amor por si
pra si
em si.
todo mundo fala de amor como se fosse a coisa mais mágica do universo
mas às vezes, o afeto dói.
dói porque a gente não aprendeu que a gente não precisa
não deve
e inclusive pode dizer não
que a gente não precisa dar conta de tudo
desde que o chicote cortou a carne dos ancestrais
foi negado o direito fundamental de sentir
deve-se carregar tudo principalmente as dores
deve-se ser três vezes melhor
pra conseguir escapar do zunido que perfura a pele
e a alma
e o coração
que já não tem espaço pra reconhecer o que é o toque singelo dos dedos
não em repulsa, mas em um dedilhar da pele com calmaria, com cuidado, com dengo.
e, especialmente
não sabemos como tocar a nós mesmos
sem dor.
por isso às vezes, até o afeto dói
pode parecer até como fraqueza
dizer não
eu não dou conta
não consigo
hoje não.
a gente aprende a se dar conta
a se bastar
a se resolver só
a ser rocha
e pode ser difícil estender a mão
e permitir que outros caminhem conosco
e mais difícil ainda
saber onde começa e onde termina a linha tênue
entre compartilhar a dor
e misturar sua dor com a dor do outro de forma improdutiva e maçante
sem conseguir ninguém lidar com todo esse avalanche
como saber lidar consigo primeiro e também com o outro de forma saudável?
como saber se a gente nunca aprendeu com referenciais?
cadê nossos exemplos?
como moldar meu afeto se nem sei onde como por onde ele começa a ser construído?
o afeto conjunto é talvez o desafio da nossa geração
e odeio pensar nele enquanto responsabilidade
é pesado demais
que a coisa que deveria ser mais leve
do que tornar-se nosso legado em forma de obrigação, de peso.
ainda nem sei ser forte-frágil-capaz-incapaz
me abrir vulnerável mas lidar comigo rocha
como posso ser tão múltipla?
essa humanização ainda não chegou em mim
permitir-me ser confusa e ambígua
e vejo que acabamos nos responsabilizando demais por tudo
até pelo que não é nosso
sem nos permitir ser a bagunça
o vulcão do não resolvido
admitir que o mundo não nos deu estrutura pra isso
e aprender enquanto erramos
juntos
mas e se for demais as dores conjuntas somadas multiplicadas subtraídas não calculadas?
será que eu consigo lidar com isso?
o do outro e o meu?
até onde vai a possibilidade do quebrar a alma e reconstruir-se em conjunto?
vou até onde me cabe
mas sempre me pergunto pensando
porque é que as nossas vivências conjuntas têm que sempre, necessariamente, evocar tanta dor?
porque é que internalizamos tanto o racismo a ponto de não conseguirmos nos enxergar
para além do que machuca?
por que não é uma possibilidade ser em conjunto compartilhando dores
e também sendo felizes e compartilhando memórias da felicidade em comum?
quero delinear as expectativas de um futuro leve
a revolução não é só lidar com minhas dores de forma saudável
a revolução é o meu sorriso.
as limitações, autoimpostas ou não
às vezes eu odeio o fato de que eu tenho que parar e dizer chega
autocuidarme saber até onde eu posso ir
é uma bênção
mas também é
um culpar-se por não conseguir ir adiante
às vezes é difícil de viver em amor por si
pra si
em si.
todo mundo fala de amor como se fosse a coisa mais mágica do universo
mas às vezes, o afeto dói.
dói porque a gente não aprendeu que a gente não precisa
não deve
e inclusive pode dizer não
que a gente não precisa dar conta de tudo
desde que o chicote cortou a carne dos ancestrais
foi negado o direito fundamental de sentir
deve-se carregar tudo principalmente as dores
deve-se ser três vezes melhor
pra conseguir escapar do zunido que perfura a pele
e a alma
e o coração
que já não tem espaço pra reconhecer o que é o toque singelo dos dedos
não em repulsa, mas em um dedilhar da pele com calmaria, com cuidado, com dengo.
e, especialmente
não sabemos como tocar a nós mesmos
sem dor.
por isso às vezes, até o afeto dói
pode parecer até como fraqueza
dizer não
eu não dou conta
não consigo
hoje não.
a gente aprende a se dar conta
a se bastar
a se resolver só
a ser rocha
e pode ser difícil estender a mão
e permitir que outros caminhem conosco
e mais difícil ainda
saber onde começa e onde termina a linha tênue
entre compartilhar a dor
e misturar sua dor com a dor do outro de forma improdutiva e maçante
sem conseguir ninguém lidar com todo esse avalanche
como saber lidar consigo primeiro e também com o outro de forma saudável?
como saber se a gente nunca aprendeu com referenciais?
cadê nossos exemplos?
como moldar meu afeto se nem sei onde como por onde ele começa a ser construído?
o afeto conjunto é talvez o desafio da nossa geração
e odeio pensar nele enquanto responsabilidade
é pesado demais
que a coisa que deveria ser mais leve
do que tornar-se nosso legado em forma de obrigação, de peso.
ainda nem sei ser forte-frágil-capaz-incapaz
me abrir vulnerável mas lidar comigo rocha
como posso ser tão múltipla?
essa humanização ainda não chegou em mim
permitir-me ser confusa e ambígua
e vejo que acabamos nos responsabilizando demais por tudo
até pelo que não é nosso
sem nos permitir ser a bagunça
o vulcão do não resolvido
admitir que o mundo não nos deu estrutura pra isso
e aprender enquanto erramos
juntos
mas e se for demais as dores conjuntas somadas multiplicadas subtraídas não calculadas?
será que eu consigo lidar com isso?
o do outro e o meu?
até onde vai a possibilidade do quebrar a alma e reconstruir-se em conjunto?
vou até onde me cabe
mas sempre me pergunto pensando
porque é que as nossas vivências conjuntas têm que sempre, necessariamente, evocar tanta dor?
porque é que internalizamos tanto o racismo a ponto de não conseguirmos nos enxergar
para além do que machuca?
por que não é uma possibilidade ser em conjunto compartilhando dores
e também sendo felizes e compartilhando memórias da felicidade em comum?
quero delinear as expectativas de um futuro leve
a revolução não é só lidar com minhas dores de forma saudável
a revolução é o meu sorriso.
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